sábado, 31 de outubro de 2009

Post Scriptum

(este post é meio que continuação do anterior)

* Foi muito bom o mea-culpa quanto ao Groxo/Sapo, atitude nobre, mas não te perdoo por uma coisa, Jotapê: Rorschach!
Permitam-me um adendo ou uma pequena digressão em relação ao post anterior, mas que versa sobre o mesmo assunto. Tive a felicidade de ler Watchmen primeiramente em inglês (ok, confesso que o capítulo 11 é foda de se ler mesmo em língua materna, que dirá acompanhar os pensamentos do "homem mais inteligente do mundo" em uma segunda língua). Digo felicidade mais especificamente por causa de um personagem: Rorschach (o preferido de 8 entre 10 que leram a HQ ou viram o filme). À medida em que a história passava, eu reparava que o bicho falava de uma forma meio esquisita, mas não sabia o porquê, só tinha a sensação de estranhamento mesmo. Até que um dia vi uma daquelas listinhas na net "você só percebe que anda lendo muito Watchmen quando...", e tinha um item lá mais ou menos assim: "fala sempre cortando os artigos das frases", ou algo do tipo. Aí eu reparei o que sua fala tinha de esquisito! Tem mesmo! E, se você reparar bem, se você realmente leu a história, e não apenas folheou a revista (falo mais sobre isso em um post futuro), vai perceber que isso caracteriza sim o personagem. Há uma explicação para ele falar do jeito que fala. Na verdade, há um único momento na história em que Rorschach fala como um humano comum. É só mais uma das dicas que Alan Moore plantou para o leitor se situar no tempo ao longo dos vários flashbacks da história. Na verdade, a fala de Rorschach reflete sua própria natureza interna, meio fragmentada, seu estilo de vida, sempre incompleto. E ela causa arrepios inclusive na Espectral, como ela mesma diz (depois ouçam um trecho do diário de Rorschach lido por ninguém menos que seu criador, o mago Moore em pessoa, mostrando como ele imaginava o modo de falar do bicho, e aí vocês vão perceber o quão inumana, robótica e monotônica deveria ser sua fala, e vão reparar que a voz aplicada por Jackie Earle Haley no filme é só uma imitaçãozinha do estilo Batman/Christian Bale de impostar a voz). Ok, vamos ao que interessa.

Fui ler a versão nacional, da Via Lettera, se não me engano traduzida pelo mesmo Jotapê. Percebam aí o original. Não há o artigo "THE" em duas frases. Na edição nacional, escreveram "O distintivo pertence ao Comediante. O sangue também." Viram lá os dois artigos acrescentados desnecessariamente? Isso é só um exemplo, mínimo. Há outros mais conspícuos ainda. Cara, se tu for ler toda a história em português, quase não vai reparar em esquisitice alguma na fala do Rorschach! O tradutor simplesmente ou não percebeu que ele falava estranhamente, ou simplesmente decidiu ignorar isso e corrigiu suas falas para um modo normalzinho de falar. Pode parecer preciosismo de minha parte (sou só eu?), mas, para mim, isso descaracteriza o personagem! Se sua fala é seu modo característico de se expressar, e se distingue da dos demais heróis da trama, eliminar essa diferença elimina uma característica própria do personagem! E uma característica inclusive explicada na história, que faz parte do seu passado e do entendimento de quem ele é hoje. A gente consegue entender suas motivações e entender o enredo independente disso? Sim, óbvio, mas também perde parte da experiência total de se ler Watchmen, perde uma das arestas a ser apreciada da obra de arte. Alguém discorda? Marcou toca a tradução... (alguém sabe me dizer se a versão mais recente, da Panini, também é assim?)

Minha dica: se quiser ler mesmo e aproveitar todo o recurso narrativo de Watchmen, leia em inglês. Se só quiser folhear a historinha pra se divertir e achar legalzinho, leia a versão traduzida e divirta-se sem compromisso.

Não vou falar mais de traduções e versões, do que se perde quando se traduz, esse tipo de coisa, porque sei que é difícil mesmo o trabalho do tradutor, tentando ser fiel ao original e tentando manter o jogo de palavras que às vezes os autores utilizam.









Por exemplo, na parte em que os dois detetives recebem a ligação indicando a localização do Rorschach, vejam aí:




Ele pensa ter ouvido "raw shark" (tubarão cru), em vez de "Rorschach". Nos Contos do Cargueiro Negro, o gibi que o menino na banca lê nesta mesma edição, o náufrago mata um tubarão e passa a se alimentar dele, tubarão cru, para sobreviver. Essa história dentro da história não está lá à tôa. Os Contos do Cargueiro Negro contém analogias e pistas para a própria trama de Watchmen. E uma dica é dada exatamente nesse instante: o tubarão cru seria Rorschach, mas, como eu disse, falo mais sobre isso em um post futuro.

Então, como estava dizendo, sei de dificuldades como esta. Porém, um pouco mais de cuidado e atenção seria bom. Gosto de citar o carinho com que o dedicado pessoal do Vertigem (valeu, Bob Vertigo!) tem tratado as obras de Morrison, autor que adora jogos de palavras, Invisíveis e Patrulha do Destino (confesso que ficou interessante a adaptação oficial Abocalipse para Apocalipstick, um dos arcos de Invisíveis já traduzidos aqui no Brasil). Viu, trabalho bom é reconhecido por fãs!



(Agradecimentos especiais aos amigos Kleber e Guilherme pela ajuda e paciência com o Reino do Amanhã.)

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Isso é um trabalho para o Super...?

Um dia desses, estávamos eu e minha esposa na casa de um casal amigo nosso jogando um desses joguinhos de conhecimento geral e cultura inútil bem legais, quando caiu uma pergunta ou dica mais ou menos assim: também sou chamado de Mianmá. Eu prontamente respondi: "Birmânia". Eu errei. Bom, segundo a fichinha do jogo. Lá dizia que a resposta era Burma. Já há algum tempo, vi uma notícia sobre atentados ocorrendo em Mumbai. Pensei comigo mesmo "Mumbai, olha só, acabei de conhecer mais uma cidade indiana pra entrar para o meu acervo de cidades indianas de que eu já ouvi falar, composta por Nova Délhi, Calcutá e Bombaim"... No ano passado, todos sabem, houve Olimpíadas. Mas ela foi onde mesmo? Ah, é, foi em Beijing... mas não era em Pequim?
Peraí. Burma é uma forma inglesa algumas vezes utilizada para se referir ao país que, em português, recebe o nome de Mianmá (e suas variações com y no meio e r no final) ou Birmânia. Mumbai é outro nome que se dá para a cidade que, em português transliterado do inglês, é chamada de Bombaim. E Beijing é a forma como a China quer que o mundo conheça sua já tão conhecida e manjada Pequim.
Aonde eu quero chegar com essa zona toda? Eu quero chegar no Super-Homem. Ou seria no Superman?

Colecionei HQs entre meados da década de 80 até meados da década de 90, quando parei de ler e só voltei em 2000 e alguma coisa. Nesse hiato, algo engraçado aconteceu. Eu parei de ler Super-Homem, mas quando voltei, voltei a ler Superman (reparem como ele é chamado, por exemplo, nas versões de Reino do Amanhã da Abril e da Panini). Nunca gostei muito do personagem, sempre disse que as melhores histórias do Super-Homem não são histórias do Super-Homem (explico isso melhor em outros posts futuros), mas reconheço a importância do que ele representa. Mas o lance aqui não é sobre o personagem, e sim sobre o seu nome.

Aliás, tradução de nomes aqui no Brasil sempre foi algo, no mínimo, curioso. Vejam a matéria do Eudes, do Rapadura Açucarada, sobre isso aqui (Peter Parker pra Pedro Prado, fala sério...).

Ele cita casos como do Ricardito (Speedy, no original), e do Joel Ciclone (Flash I). Cara, Joel Ciclone, não sei por que, mas pra mim ficou legal. Deu um ar mais antiquado ao personagem, bem característico dele, que é da Era de Ouro. Mas Ricardito? De onde veio isso? Outro também que eu sou louco pra parar na frente do cara que deu seu nome e perguntar: Ajax. Eu sei da explicação do porquê não se utilizar Caçador de Marte toda vez, por causa do espaço dos balões de diálogo na história, já que na tradução do inglês para o português o texto geralmente fica maior, nossa língua usa mais espaço. Mas sair de Martian Manhunter para Ajax, tipo, do nada?!? O que que tem a ver???

Li uma vez um artigo do Jotapê Martins falando sobre o primeiro filme dos X-Men, e falando de um dos vilões do filme, o Groxo. Nesse artigo o Jotapê faz seu mea-culpa (literalmente), explicando que, depois do filme, o Sapo (seu nome é Toad no original) "não poderá mais ser chamado de Groxo como ocorre nas revistas". Boa, Jotapê. Reconheceu o erro, pediu desculpas, gostei*. Tudo bem que, da primeira vez que vi o Groxo, com aquela roupinha ridícula de bobo-da-corte-assistente-de-cientista-maluco-da-idade-média, achei que o nome... cabia bem na figura feia e saltitante. Mas você não tinha como prever que ele no futuro teria uma mutação secundária que o faria ficar mais anuro ainda como pedia seu nome original. É, tô falando da bendita língua que aparece, e é bem utilizada, por sinal, no filme (e não aquela mostrada por Phil Jimenez no arco Planeta X dos Novos X-men, da espessura de um punho, permanentemente para fora e inútil; como é que ele conseguia falar, e muito, com isso saindo da boca?). Tudo bem.

Outro caso, tão esquisito quanto o do Ajax, é o do... Magnum! Tudo bem, concordo que traduzir Wonder Man ia ficar no mínimo ridículo, e ia acabar com toda a seriedade e masculinidade do cara. Quem ia levar a sério um fortão no grupo chamado de Homem-Maravilha? Putz... Tiveram a boa ideia de não traduzir o nome literalmente, daí resolveram rebatizá-lo. Mas, hum, vamos ver, o que poderia ser mais másculo que maravilha e melhor pra refletir os poderes dele, hein? Já sei! Magnum! Hã? WTF?!? Seria por causa dos óculos escuros, lembrando o galã que, talvez, na época, fazia tanto sucesso (pelo menos para o tradutor) com o ator Tom Selleck (quem se lembra desse seriado, hein)? Po, deixava o cara com o primeiro nome que deram pra ele, quando ainda era vilão, apesar de ser um nome bem clichê de supervilão: Poderoso, ou Homem-Poderoso, sei lá. Mas, Magnum? Não...

E o Super, como fica? Por que deixou de ser homem e virou man? Reflexo do imperialismo cultural norte-americano? Talvez. Tendência da maior anglicanização do português num processo natural de desenvolvimento da língua? Duvido. Imposição econômica do mercado? Provável. Sei que fizeram isso com Guerra nas Estrelas. Quem chama a primeira trilogia de Guerra nas Estrelas é da época dela, ou até da geração anos 80 (meu caso). A segunda trilogia hoje só é chamada de Star Wars (ainda mais pelos fanboys dos anos 90 em diante), e foi devido a imposição da marca mesmo. Decidiu-se que os subtítulos dos filmes poderiam ser traduzidos (Ameaça Fantasma, Guerra dos Clones, etc.), mas o título principal deles, em qualquer lugar do mundo, deveria ser, sem exceção, Star Wars. Ao que parece, algo semelhante ocorreu com o escoteirão de Krypton. As importadoras de produtos como bonecos, lancheiras, camisas e outros produtos com a marca do famoso S não quiseram mais gastar com adaptações e novas embalagens, e quiseram unificar o nome usado no mundo todo visto que a fabricação desses itens se dá geralmente num único país e exportado aos demais. Por isso essa pressão cada vez maior em se utilizar Superman ao invés do já tradicional e bem aceito Super-Homem em português.

Fui, certa vez, na casa de uns primos, e seus filhos estavam assistindo um DVD do desenho da Liga da Justiça. Peguei a capa do DVD e perguntei para os moleques se eles sabiam quem era cada um ali mostrado na capa. Chegando na figura verde do marciano, falei que era o Ajax, ao passo que eles fizeram cara de estranhamento e disseram "não, é o Jon-Jonz!" Fiquei com cara de tacho, parecendo que tava mentindo pra eles, mas a mãe deles pegou a capa do DVD e na sinopse dele estava escrito algo como "Batman, Flash, Mulher-Maravilha... e Ajax: sete dos mais poderosos heróis..." Confiram a descrição do DVD à venda no Submarino. Repararam no nome do Ajax, apesar de no desenho em nenhum momento ele ser chamado assim? Outra coisa, repararam que na sinopse Kal-El foi chamado de Super-HOMEM?

Vou apresentar algumas contradições encontradas entre o nome dado ao personagem e o texto de algumas de suas histórias, advindas da nova nomenclatura que pretendem dar ao personagem. Primeiramente em três revistas em que o personagem é chamado exaustivamente de Superman, mas aí chega uma hora do texto em que não dava mais pra manter isso, senão seria perdido o jogo de palavras.

- Em Superman Paz na Terra, na antepenúltima página (4ª de trás pra frente): "Vejo agora que assumir essa responsabilidade foi ambicioso demais para um homem, mesmo sendo um Super-Homem.” Ué, até há pouco ele era Superman, na verdade ao longo de muitas páginas, mas nesta única frase ele voltou a ser Super-Homem rapidinho!

- Outra, em Cavaleiro das Trevas II, a Mulher-Maravilha pergunta: “Onde está o herói que me lançou ao chão e me tomou como um prêmio merecido? Onde está o deus cuja paixão destroçou o topo de uma montanha? Onde está esse homem? Onde está esse Super-Homem?” É, né, Diana, na hora do vamuvê ele deixa de ser Superman e vira um Super-Homem, né, safadinha?

- No arco de histórias de Lex Luthor Homem de Aço (muito bom por sinal, como eu disse as melhores histórias do Super-Homem não são histórias do Super-Homem), capítulo 5, últimas páginas, Lex fala: “Você não pode (ver minha alma). Pois, se a enxergasse, veria um homem que optou por negar a felicidade a si mesmo (...) pelo mundo. Um mundo sem um 'super-homem'.” Poxa, ficou legal, não? Dá mais sentido às palavras de Luthor quando se representa o adjetivo do nome de Kal-El, um qualificante de seu poderio e de sua posição no mundo.

- Agora, o lado contrário, quando decidiram que não ficaria legal martelar a cabeça do leitor com o nome Superman em toda a revista e só numa única frase desdizer tudo de antes e jogar sua versão traduzida. Pegue seu exemplar de Maiores Histórias Superman DC 70 anos, vá até a página 90 e leia: “Pelos próximos 72 anos, homem e supermen colonizaram os céus.” Horrível, não? E separei só uns poucos casos, com certeza há mais parecido com isso por aí (não acompanho a revista do Azulão mensalmente para mostrar mais).

Retomando Pequim. Há estudiosos que defendem o uso da palavra Pequim para se referir à cidade, visto seu uso já consagrado no português, inclusive com palavras derivadas, como a raça pequinês, por exemplo. Não vamos mudar o nome da raça para beijingnês, obviamente. O mesmo caso eu digo do Super: percebam que, todas as vezes em que órgãos de mídia se referem ao último filho de Krypton, chamam-no de Super-Homem. Perguntem para seus familiares, sejam pais, avós, ou mesmo primos de mesma idade, mas que não conheçam bem ou não leiam HQ: eles vão falar Super-Homem. Até mesmo referências dentro da cultura pop, inclusive seriados com bastantes afinidades com quadrinhos, como Heroes ou The Big Bang Theory, citam o herói como Super-Homem, e não Superman. O conceito de Nietzche, já consagrado em nosso idioma pátrio, é o do super-homem, não o do superman. Cara, passamos mais de 5 décadas chamando o cara de Homem, e agora sem mais nem menos vamos chamá-lo de Man? São pelo menos 50 anos ouvindo seu nome em português para abandoná-lo assim!

Conclamo todos nós a usarmos simplesmente aquilo a que nos fomos acostumados a ouvir a vida inteira. Não é mais simples usar aquilo que sempre usamos? Para que nos rendermos a uma imposição artificial e engolirmos o termo americanizado, se já temos nosso termo próprio? Entendo que as línguas evoluem, adaptam-se, mudam com o tempo e aceitam incursões de outros idiomas; adição de estrangeirismo é perfeitamente normal. Mas somente quando não temos um termo específico em nosso idioma para aceitá-lo. Usar uma forma estrangeira forçada goela abaixo em detrimento de um termo já tão bem traduzido e arraigado culturalmente em nosso idioma há décadas... isso para mim sim é antinatural!

Ou vamos agora mudar tudo? Afinal de contas, ainda falamos Homem-Aranha, e não Spiderman. Até quando? Falamos Homem de Ferro, e não Iron Man. Por quanto tempo? Vamos ver o futuro filme dos Vingadores, ou o filme dos Avengers? Quarteto Fantástico ou Fantastic Four? Mulher-Maravilha ou Wonder Woman? Podemos continuar assim ad aeternum...

Vocês podem até falar "poxa, mas são ordens editoriais e tal...", mas vamos lembrar comigo o caso do Shazam. Quer dizer, do Capitão Marvel. Viu, muita gente confunde o nome do cara, achando que é Shazam. Isso deveu-se a problemas de direitos autorais; quando a DC adquiriu os direitos do personagem, a Marvel já era detentora da marca Capitão Marvel. Logo, a DC teve de publicar seu herói usando na capa de suas revistas o título Shazam. Fica aí minha sugestão. Panini (ou qualquer outra que possa publicá-lo por aqui), que tal mostrar o título da revista como Superman, mas à parte isso, dentro dela, em todo o seu conteúdo, chamar o personagem da nossa forma tão conhecida, Super-Homem mesmo? Deixa os personagens dentro da história, ou o texto lá dentro, usando homem, só na capa se manteria o man. Não atrapalharia a questão da marca, e manteria a nossa tradição linguística na versão aportuguesada, além de evitar problemas como os expostos nos exemplos que dei lá em cima. Isso seria muito trabalhoso, seria tão difícil?


Seria um trabalho para o Super... Homem?




Vídeo sugerido: Eu tinha que ser um Super-Homem?




terça-feira, 20 de outubro de 2009

REFERÊNCIA OU CÓPIA?

Eu sei que existem personagens que são feitos em homenagem a outros. É o caso do Samaritano, de Astrocity. Ele é claramente uma alusão ao Super-homem. Da mesma forma que os inimigos do Planetary são uma clara referência ao Quarteto Fantástico. Agora... existem casos de personagens muito parecidos, e não sei se são declaradamente referências aos personagens de outras editoras ou se poderiam ser considerados cópias mesmo. Veja os exemplos abaixo, comparando personagens das duas grandes: Marvel Comics e DC comics.

Arqueiro Verde X Gavião Arqueiro

A diferença básica entre os dois personagens é que o Arqueiro Verde é milionário. Compare o resto... Ambos são exímios arqueiros que disparam flechas especiais. Até aí, normal, existem vários personagens que o são, inclusive fora dos quadrinhos. Só que os dois são também bastante ágeis, lutam bem e fazem ou um dia fizeram parte de uma equipe de megapoderosos: o Gavião Arqueiro dos Vingadores e o Arqueiro Verde da Liga da Justiça. Até o temperamento dos dois às vezes é parecido.


Flash X Mercúrio

Existe alguma dúvida? Ambos são os velocistas mais conhecidos de cada uma das editoras. Hoje em dia (ou pelo menos até quando li) o Flash passou a ter uma série de outros poderes por causa da supervelocidade, como atravessar paredes e destruir um objeto (às vezes até uma construção) fazendo-a vibrar. Só que o Flash mudou com o tempo. Da mesma forma que o Super-homem em suas primeiras histórias não voava, apenas saltava alto, o Flash do passado também era mais limitado. Aliás, o Mercúrio parece ser exatamente esse Flash mais limitado. É apenas superveloz, sem poderes extras por conta disso, e nem é tão rápido quanto o Flash atual. Até o uniforme do Mercúrio, se você observar bem, também leva relâmpagos nos detalhes, símbolo do Flash.

Super-homem X Gladiador

Esse é uma referência mesmo, como existem tantas outras ao homem de aço. O Gladiador, para quem não conhece, faz parte da guarda imperial do império Shiar, que de vez em quando aparece nas histórias dos X-men. Em outras palavras, é um supercoadjuvante meeeeeessmo! Seus poderes: Voo, megaforça, megarresistência (até aí, é só um modelo básico), dispara raio de calor dos olhos e pode dar um supersopro. Opa! Super-homem total, não é? A diferença: o poder do Gladiador depende de sua confiança, enquanto o do Super depende do Sol. Mas, como disse, ele não é cópia, é uma referência mesmo. Reparem na capa da revista, onde está escrito “Homem e super-homem", em que a equipe enfrenta o Gladiador. E na capa da revista do Super-homem onde está escrito: "Super-homem enfrenta uma legião de super-heróis". Ambas foram feitas por John Byrne. Assim ele evidencia que o Gladiador é uma referência ao Super-homem. Seria a legião uma referência ao Quarteto Fantástico também? Um gênio como líder, um brutamontes, um que tem poderes ligados ao fogo e uma garota que fica invisível? Parece...

Caçador de marte X Visão

Das comparações que fiz, esses são os menos parecidos. Já é um exemplo de como dois personagens podem ser parecidos conceitualmente. Repare: ambos são, ao seu modo, alienígenas. O Caçador porque é de Marte, o Visão porque é um robô (Opa! Desculpe, um sintozoide). Ambos têm uma maneira fria de pensar e agir (estou falando do Visão de personalidade robótica mesmo, e não do Visão cheio de sentimentos que se casou com a Feiticeira Escarlate). Ambos são considerados sombrios e às vezes provocam calafrios nos próprios membros de suas equipes. Na aparência, os dois voam com leveza, usam longas capas e são “carecas” de olhos fundos e frios (compare as gravuras e diga se não são parecidos). O Visão, além de voar, tem certo controle sobre seu corpo, que o permite ficar intangível ou muito rígido. O Caçador de Marte também voa, também pode ficar intangível, é invulnerável e controla seu corpo, podendo moldá-lo. O Visão dispara raio dos olhos e o Caçador de Marte lê mentes, é nesse ponto que se diferenciam. Eu acredito que o Visão pode ter sido inspirado na figura do Caçador de Marte, o que não caracteriza uma cópia, pois eles são semelhantes, mas ao mesmo tempo possuem diferenças fundamentais. Digamos que seja um estilo de personagem... Particularmente, gosto dos dois.

Namor X Aquaman

Os dois reis do mar. Quer dizer, o Namor é o príncipe submarino, enquanto o Aquaman é um rei. Rei dos Atlantes, uma raça que na DC vive debaixo d’água, assim como os... Atlantes, uma raça que na Marvel vive debaixo d’água. Nada sutil, né? Ambos podem respirar tanto na água quanto na superfície. Ambos possuem força e resistência sobre-humanas. É verdade que o Aquaman pode convocar mentalmente animais aquáticos e o Namor, voar por causa de asas nos tornozelos (não sei o que é pior: o fato de que asas tão pequenas obviamente não o permitiriam voar ou imaginá-lo com grandes asas nos tornozelos), mas o Aquaman é claramente uma resposta à criação do Namor nos domínios dos mares das editoras. Existe alguma dúvida? Aliás, para quem veio até esse blog em busca da resposta para o probleminha de lógica, o Namor é a resposta. Dos cinco casos citados, os quatro primeiros personagens da Marvel foram criados depois dos da DC, o Namor é o único que a Marvel criou antes. Portanto, se houve cópia ou referência, os personagens da Marvel que foram inspirados nos da DC, com exceção dos mestres do oceano.
Existe ainda o caso do Monstro do Pântano da DC e o Homem-Coisa, da Marvel. Também há grande semelhança. Porém, isso envolveria falar de um outro personagem, ainda mais antigo... Deixo para vocês então um link para outro blog, que fala mais aprofundadamente sobre o assunto: http://www.uarevaa.com/2009/10/o-monstro-do-pantano-criatura.html

terça-feira, 6 de outubro de 2009

SOM e FÚRIA*

Esse é o cara. Raio Negro. Ou melhor, Blackagar Boltagon (Black Bolt, sacaram?). Ainda bem que pelo menos o nome original do cara não traduziram, deve ser meio ridículo alguém chamado Raioagar Negroagon – ou seria Raioagon Negroagar? Bom, deixando isso de lado, vou falar sobre o rei dos Inumanos, um dos módafoca mais overpower da Marvel, na minha humilde opinião. Mas vou tentar explicar a vocês meus motivos. Vamos começar com uma leve introdução.

Raio Negro foi criado por Stan Lee e Jack Kirby, e apareceu pela primeira vez numa história do Quarteto Fantástico, mas logo depois contracenou com um monte de outros personagens. Ele é soberano da espécie dos Inumanos, uma ramificação da raça humana, manipulada geneticamente pelos alienígenas Krees num passado distante, que evoluiu distintamente. Uma sociedade rigidamente dividida em castas, monárquica e escravocrata. Para uma melhor compreensão do funcionamento da sociedade dos Inumanos, recomendo a minissérie, ganhadora do Prêmio Eisner, de Paul Jenkins e Jae Lee (ambos também de Sentinela, outra boa obra). Todo inumano, quando alcança determinada idade, atravessa um rito de passagem chamado Terrigênese e se expõe às Névoas Terrígenas, que lhe possibilita aflorar suas capacidades genéticas, garantindo-lhe poderes e às vezes alterando drasticamente sua aparência. A base da sociedade inumana é, portanto, a diferença, paradoxalmente ligada à rigidez de sua estratificação social. Tal ritual também expõe deformidades e eleva quaisquer defeitos genéticos existentes. Devido a isso, a sociedade inumana desenvolveu um sistema de eugenia, melhoramentos genéticos e casamentos consanguíneos para minimizar tais defeitos. Raio Negro foi concebido para ser o ápice da evolução inumana, e exposto às Névoas Terrígenas ainda embrião. E é o mais poderoso inumano que já existiu. Além de sua capacidade de controlar elétrons e assim manipular matéria e energia, seu maior poder é sua voz. Um mero sussurro é capaz de fazer uma sala inteira em pedaços, e um pequeno grito talvez seja mais potente que uma bomba nuclear. Quando chorou pela primeira vez, ainda bebê, quase destruiu a cidade, como visto aqui.

Devido à grandiosidade de seu poder, que era um perigo para toda a sociedade, Raio Negro teve de passar 19 anos isolado e recluso numa câmara especial à prova de som para conter seus poderes, onde desenvolveu técnicas capazes de controlá-los, até ser possível viver em sociedade sem riscos. Viver uma vida em eterno silêncio.

Raio Negro casou-se com Medusa, e forma a Família Real Inumana, ao lado de Gorgon, Karnak, Triton, e Cristalys. Reparem no desabafo da rainha Medusa a uma de suas amas, ao falar sobre como é ser mulher do mais poderoso dos Inumanos.

MEDUSA: "Meu esposo... às vezes, ele me olha de um jeito que me faz sentir segura de seus sentimentos. Em outras ocasiões, ele é um enigma. Eu queria... de vez em quando, eu preciso tanto ouvir as palavras. Só que ele não pode dizer nada, jamais poderá."

AMA QUALQUER: "A Senhora receia que ele cometa um erro?"
MEDUSA: "Não. Nunca. Mas esse é o problema. É aterrador pensar que meu marido é capaz de selar a porta da sua mente... e trancar tudo e todos para fora.
Inclusive eu."


Sempre me amarrei em personagens conflitantes com o próprio poder, e sempre adorei o tipo de "lei da compensação" que a Marvel aplica em vários de seus personagens (Professor X tem a mente mais poderosa do planeta presa em um corpo inválido, Hulk é o avatar da força mas não tem nenhum controle, o poder da Vampira é sua eterna maldição, etc.). Lembro que, da primeira vez em que vi o Raio Negro, fiquei meio que maravilhado e meio que assustado, a figura do monarca inumano exigia respeito e admiração. A aura de nobreza e mistério que circundava o personagem tornava-o mais interessante (repare que nunca foi apresentado, jamais, um balão de pensamento revelando o que ele está pensando). Já tinha noção que o cara era poderoso, mas só depois que li Terra X (fiquem de olho, a Panini vai relançar, ou melhor, lançar, Terra X completa!!! Nada mais de histórias retalhadas) que comecei a perceber a verdadeira extensão do poder do bicho. Se vocês já leram e se lembram, mais pro final da história Raio Negro simplesmente encarou no mano a mano os Celestiais! Os Celestiais!!! No mano a mano!?!?! Po, os Celestiais são deuses, ou mais que isso, são deuses cósmicos!

"Uma voz que pode destroçar um deus... ou mais de um." Outra prova do quanto o Raio Negro é O Cara, essa bem mais sutil, mas não menos impressionante, abaixo.

Karnak, que tem a capacidade de detectar o ponto fraco de qualquer coisa ou pessoa, conversa com Gorgon:












KARNAK: "Estou preocupado com o rei."
GORGON: "Preocupado com ele? Pensei que isso fosse impossível. Você jamais pôs em dúvida as motivações de nosso rei. Sua lealdade ao Raio Negro é inquestionável. Qual é o problema?"
KARNAK: "Para interpretar o problema, você deve saber o que eu sei. Deve entender o meu... dom."




Sinistro, hein? Se nem aquele que tem o poder de encontrar a fraqueza de qualquer pessoa ou coisa consegue ver uma no Raio Negro... fala sério!

Se vocês ainda não estão convencidos de seu poderio, uma amostra do que aconteceu quando ele sussurrou a palavra "guerra" bem aqui e aqui. Até mesmo Apocalipse tem medo dele, vejam. Ou então sigam este link para ver alguns outros feitos mais de Raio Negro.

Sempre legado a segundo plano, como personagem coadjuvante, nos anos recentes, finalmente, vimos o personagem adquirir um pouco da grandiosidade que lhe era cabida, quando ele nos é apresentado como um dos membros fundadores dos Illuminati, a conspiração secreta de grandes líderes heroicos manipulando eventos por trás dos bastidores no universo Marvel (aliás, em uma das histórias desse misterioso grupo, Reed amplifica as energias vocais de Raio Negro para criar um buraco na própria realidade, mais uma prova de seu vasto poder sônico).

Pois bem, eis que vejo nas bancas Guerra Silenciosa. Uau, massa, o título já evoca guerra, e logo na capa vemos som e fúria do rei dos Inumanos. "Quando as Névoas Terrígenas são roubadas pelo governo norte-americano, os Inumanos declaram guerra aos EUA, uma guerra na qual uma única palavra pode devastar todo o planeta." Muito boa a história, principalmente a atitude do Sentinela (outro overpower, conhecido como o super-homem da Marvel só pela apelação, mandado pela SHIELD à frente de batalha para conter o poderio inimigo) com relação ao Raio Negro. Ambos são tratados como os arsenais atômicos das duas grandes potências durante a Guerra Fria. A presença do Sentinela garante que Raio Negro não faça nada, e vice-versa. Cada lado põe sua peça mais poderosa no jogo não para participar e vencer, apenas para impedir que o adversário use sua peça mais poderosa também. Há quem diga que Sentinela, com "o poder de mil sóis explodindo" (o que quer que isso signifique) amarelou... Outro "confronto" curioso na história é quando Jamie Madrox parte para cima de Raio Negro com um bastão, e Layla Miller tenta intimidá-lo dizendo que não dá para derrotar o Homem-Múltiplo, pois cada vez que acertam nele, surge uma cópia sua. Medusa responde o desafio: "Meu marido tem o dom de fazer cada elétron em seu corpo se colidir simultaneamente com o elétron adjacente. Faz ideia do que aconteceria?".

Porém, à parte isso, Guerra Silenciosa ainda trouxe algo de que definitivamente não gostei. Vimos ainda há pouco o quão incólume, frio, íntegro Raio Negro pode ser. Apesar de se manter firme em sua posição de declarar guerra aos EUA, ir contra seus amigos heróis e arriscar a própria segurança de seu povo, em determinado momento da história, o rei vê seu irmão beijar Medusa, e reage... assim:

Po, cadê a imagem do impassível, quase blasé, do rei todo-poderoso? Cadê toda a dignidade de Sua Alteza? Tudo bem que cada autor trata seus personagens da maneira que convier melhor à sua história, captando uma nuance específica que queira mostrar... mas descaracterizar a personalidade do personagem assim? Talvez ele quisesse mostrar um lado mais humano do personagem... mas po, o cara é Inumano! (tudo bem, o trocadilho foi fraco...)

Para piorar ainda mais a situação, li Hulk Contra o Mundo (World War Hulk), e adivinham quem é o primeiro dos Illuminati que o verdão resolve pegar na porrada quando volta de seu exílio? Exatamente, o "mais poderoso deles".

Vamos lembrar a última briga que o Hulk teve com Raio Negro, e o resultado da peleja:

01-02-03-04 (imagens retiradas do blog Black Zombie).

Raio Negro não só aguenta um murro direto do Hulk, como acerta um no gigante verde. Eles trocam uns sopapos até que o inumano abre sua boca e faz a cidade inteira tremer... derrubando finalmente o verdão.

E no Hulk Contra o Mundo?
Não dá pra saber ao certo o que diabos o Golias Esmeralda fez, mas a prévia da luta vocês acompanham desde aqui, aqui e aqui, até aqui.
Mas esperem. Deve ter algo errado aí. Pra tudo há uma explicação. Não é possível que esse Raio Negro todo quebrado aí do lado seja o mesmo Raio Negro que venho apresentando desde o início. Não mesmo.
E não é!

Ainda não li Invasão Secreta (gosto de esperar essas sagas chegaram ao fim para poder lê-las de uma vez só), mas já sabemos previamente que um dos Illuminati foi trocado por um Skrull, e que esse foi justamente o rei dos Inumanos. Resta saber agora: COMO diabos isso foi feito, e ONDE está o verdadeiro? Sei que logo após a Invasão Secreta haverá War of Kings, e parece que o Raio Negro, o original, o modafóca, o Cara, vai à desforra pancando todo mundo pelo universo! Vamos esperar para ver. Dizem que no espaço ninguém pode ouvir você gritar... a menos que você seja o monarca dos Inumanos!

*O título deste post vem de Macbeth, de Shakespeare, reproduzido em Admirável Mundo Novo, e não se refere à minissérie homônima da Globo (apesar de que esta eu também recomendo, fez com que eu acreditasse ainda haver qualidade na TV aberta).

- Minissérie sugerida: Som e Fúria, Globo.

- Música sugerida 1: Enjoy the Silence (Depeche Mode)

- Música sugerida 2: The Sound of Silence (Simon & Garfunkel, versão do filme Watchmen)


Rodrigo.