domingo, 19 de agosto de 2018

Galactus Pró-Vida?


Umas duas décadas antes de receber o recente epíteto de Lifebringer (vide final do post), Galactus e seus arautos já passavam por umas situações que demonstravam o - paradoxal para alguém chamado Devorador de Mundos - apelo a favor da vida deste faminto deus cósmico. Separei duas instâncias, uma de 1991 e outra de 1993.
A primeira dela diz respeito a Nova, Frankie Raye, humana apaixonada por Galactus que se voluntariou para ser sua arauto. Surfista Prateado, recentemente tendo descoberto que o Devorador de Mundos havia mexido com sua "alma" a fim de que cumprisse integralmente seu papel de arauto (ou seja, fazendo com que o Surfista não sofresse de remorso com o fardo de ter entregue um planeta inteiro para ser destruído por seu mestre), preocupou-se com a nova arauto. Sentindo-se responsável pela alma da terráquea, Surfista solicitou sua ajuda para alcançarem um planeta distante:

Apenas com a velocidade combinada dos dois eles conseguiriam finalizar a viagem e chegarem ao destino almejado. Chegando lá, Surfista apresentou o mundo para Nova e perguntou-lhe se ela, vendo os selvagens e primitivos habitantes da esfera, mesmo assim entregaria a orbe de mão beijada para seu mestre consumir:


Ela disse que sim, se assim fosse o desejo e a necessidade de Galactus. Segundo ela, ninguém nem perceberia ou sentiria falta deste globo. Então o Surfista a pediu para o acompanhar para dentro de uma caverna naquele primitivo mundo, para mostrar-lhe algo:


Surfista na verdade enganou Nova. A viagem que fizeram não foi pelo espaço, mas sim pelo tempo! Eles retornaram para uma Terra ancestral, onde os seres humanos ainda não haviam alcançado o desenvolvimento de hoje. Nova estava em casa, milhares de anos no passado, mas em casa. Surfista então lhe disse que cada um dos milhares de mundos em situação similar estariam fervilhando de possibilidades. Nova percebeu que estas possibilidades e potencialidades todas seriam destruídas junto com o planeta, e que de fato sim, muitos sentiriam falta dele se fosse destruído - a própria Frankie Raye nunca teria nascido, por exemplo, nem nunca seria arauto de Galactus. Bem legal a lição. 

Esta edição ainda traz de bandeja uma rara oportunidade de vermos Galactus sentadinho e̶m̶ ̶s̶e̶u̶ ̶s̶o̶f̶á̶ ̶ sem seu capacete: 

Como o excelentíssimo site Supermegamonkey disse quanto a isso, se você não gostou dessa imagem, lembre-se que John Byrne estabeleceu anos antes que nós enxergamos Galactus apenas como nossa habilidade cerebral de compreendê-lo permite, então a culpa é apenas sua mesmo, kkkkkk. (Curiosidade: lembro que, quando vi esta imagem abaixo pela primeira vez, ainda criança, eu não tinha entendido direito e achava que esses quadrinhos rodeando Galactus na verdade mostravam as várias espécies presentes reagindo com assombro à imagem dele; só depois de "velho" vim a entender que na realidade se trata das várias imagens de Galactus, como visto por diversas raças alienígenas):

A outra instância é em uma edição de Excalibur, de Alan Davis. Em determinado momento, a entidade Fênix, de posse de Rachel Summers, enfrenta o Devorador de Mundos, pronta para dar fim à existência do "maligno" ser. Galactus retruca a hipocrisia da mutante, ao tempo em que revela fatos interessantíssimos sobre a entidade e como funcionam seus poderes:

No Caption Provided
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Galactus nos ensina que a Fênix retira suas forças a partir de uma fonte ilimitada de potencial: a vida ainda não nascida. E conclui com uma pergunta: "Quem é o mal maior, eu, o devorador da vida que seguiu seu curso; ou você, que nega a existência a gerações do futuro?"
Derrotada, Fênix vai embora. Maior ainda a lição. 

Pois bem, em 2016, numa edição do novo Ultimates (grupo composto por Pantera Negra, Marvel Azul, América Chavez, Capitã Marvel e Mônica Rambeau; nada a ver com os Supremos do universo Ultimate), o grupo de heróis mais proativos decide "resolver o problema Galactus" de uma vez por todas. Estudando o Devorador, eles apresentam e entregam sua solução:


Eles concluíram que o processo de maturação de Galactus desde o alvorecer do universo foi de alguma forma interrompido, ficando incompleto. Ou seja, o Devorador saiu de sua câmara de gestação prematuramente. Encontrando a incubadora ainda funcional no espaço e pulsando de energia, os novos Supremos resgatam-na e forçam Galactus a adentrá-la, finalizando assim seu desenvolvimento. O deus cósmico emerge da incubadora não mais como uma força devoradora de vida, mas sim uma força doadora universal. Galactus, the Lifebringer:

                                          

Veja bem que estamos falando de planetas e forças cósmicas e conceitos universais. Se você enxergou algo mais além disso - ou alguma metáfora que escapou até mesmo aos autores originais -, lembro que, assim como a verdadeira face de Galactus, isso se deve somente a você mesmo. 

domingo, 22 de abril de 2018

Try the Red One (final)

(WARNING: Leiam antes as partes 1, 2 e 3 desta série de posts; não vão se arrepender)

Putaqueopariucaralhoporra! 
Que momento massa! Que construção da porra eles conseguiram durante umas três edições, te levando a crer que o fiodaputa era cego, a história inteirinha o DD narrando te fazendo acreditar que ele era mesmo, pra num único quadrinho ele mandar essa frase matadora e do mal... Quando li essa parada a primeira vez fiquei tão chocado que joguei na internet o "try the red one" e vi o qto o pessoal na web também se amarrou, considerando um dos momentos mais marcantes nos quadrinhos do ano, etc. 
Acreditam que Mark Waid chegou pro artista Chris Samnee e disse que tinha sonhado com essa frase, só essa, e que agora ele queria inventar uma história pra poder chegar até essa frase... Well done!
Bom, era isso que queria mostrar, essa construção, pouco a pouco, criando o ritmo e moldando o clima. Confesso que eu mesmo quando li me peguei prendendo a respiração por alguns segundos e pensando "f*d&u..." e devia estar de olhos arregalados igual o DD naquele quadrinho seguinte. Adoro ter essas sensações lendo, e quem nÃo? Espero ter passado o clima também pra vocês, mesmo cortando a história quase toda... 
Não quero contar mais pra não estragar a surpresa, afinal de contas só mostrei uma parte da história (a porrada entre os dois dura umas 11 páginas, e só mostrei umas 5), e fora isso tem todo o lado do Foggy Nelson e da amiguinha do Matt e as historinhas paralelas, tem quem é o vilão responsável por criar o Ikari e ter mandado ele contra o Demônio, por que ele fez isso, todo o metaplot que já vinha sendo montado desde a edição 1...
Queria ressaltar ainda que Mark Waid e seus artistas conseguem mostrar um conjunto de momentos em que os hipersentidos do herói são highlighted como também em outros são postos à prova. Umas belas mostras do uso deles no meio visual dos quadrinhos está nas capas , mostrando como seria "ver" o mundo auditivamente, principalmente na da primeira edição:


Reparem em como o som característico de cada objeto ou elemento do cenário (como o bater de asas dos pombos ou o barulho do líquido dentro da caixa d'água ou o sibilar da fumaça subindo) serve para traçar o contorno do mesmo. Brilhante representação! 

 Como também no quadro abaixo de Marcos Martin, onde cada microquadrinho ressaltado por cores demonstra um sentido diferente percebendo o ambiente (sutil, mas excelente):

Dá para se demorar bastante atribuindo nossa própria memória sensitiva sensorial a cada representação, como os quadros brancos evocando cheiros (da fumaça que sai do escapamento, do cabelo esvoaçante da menina, do dejeto em que Foggy quase pisa, da pizza no interior do bagageiro do entregador na moto...). Há ainda as representações do radar de Matt "tocando" as coisas no cenário (percebam bem que há uma gag visual bem danadinha*...). 
Ademais, as demonstrações dos hipersentidos de Murdock ao longo da série são um show à parte:

*Aliás, uma boa tradução para Daredevil em português, mantendo os dois "D", seria Danado, não...? Claro que em relação ao significado original da palavra, relativa a danação, fazendo alusão ao uniforme do herói, e não em relação ao sentido que hoje é o associado mais comum no Brasil, kkkkkk. Embora a personalidade de mulherengo do advogado casaria bem com essa. Bom, talvez Destemido fosse mais condizente com o significado em inglês, mas perderia o jogo de palavras com o "devil" e a associação com o chifre e o vermelho e toda a parte culpa católica do personagem... Mas ambas seriam bem melhores que o demolidor (?) que foi utilizado, mas... estou divagando.

 O que posso deixar pra vcs é que, no Brasil, a história foi publicada em Demolidor #4 (2014), e a história original em Daredevil v3 (2011-2014) #25. Quem quiser que procure e vá ler!

Mas, para quem quiser saber mais apenas do resultado da luta... Só posso adiantar que a porrada em si termina meio anticlimaticamente assim:
Agora quem é honesto o suficiente pra admitir que também sentiu a respiração presa nem que seja por alguns milissegundos e pensou "pqp" na hora do "Try the red one"? 
Hein?

sábado, 21 de abril de 2018

Try the Red One (parte 3)

Retomando do cliffhanger deixado no post anterior, e parafraseando Bátima Feira da Fruta: "O pau come solto lá fora". Vou deixá-los apreciar algumas páginas do embate entre os dois antagonistas com supersentidos e a tentativa do DD em sobrepujá-lo:
















...!
!!
!!!



(Contifuckingnua, po!)

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Try the Red One (parte 2)

Primeiramente, antes de continuarmos a história, um quebra-gelo cômico com um sagaz comentário de um passageiro de ônibus figurando ao fundo:


E a Nelson & Murdock continua recebendo ameaças, das formas mais imprevisíveis possíveis, como este engradado que chega no prédio da firma de advocacia onde Matt trabalha:



A carga trazida dentro dos caixotes, surpresa, é viva! E o pior, os animais também sofreram o processo pelo qual os capangas do post anterior passaram, pois como todo bom teste de substâncias e procedimentos envolvendo seres vivos, antes de testar em humanos:





Os bichinhos são despachados também sem muito esforço. Depois de mais um quadro excelente usando os vários sentidos do Demolas de forma bem legal (mais sobre isso depois) graças ao desenho e cores de Javier Rodriguez, ele é levado a ir parar num lugar bem conhecido seu (reparem no uso de cores diferentes para ressaltar cada sensação diferente percebida pelo Homem sem Medo; é quase sinestésico para nós, que não possuímos a hipersensibilidade do herói).  






O uso de elementos tão familiares ao histórico pessoal de Matt Murdock é só mais uma ferramenta para desestabilizá-lo, então o vilão se apresentar com cores e padrão de vestimenta que relembra o primeiro uniforme do Demolidor também é intencional neste efetivo. 
E é aí que a p*##@ fica séria!

(Continua...)

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Try the Red One (parte 1)

Pacing. Em quadrinhos, especificamente, é uma das mais importantes características para se contar uma boa história. Vou mostrar pra vocês o significado de pacing, como construir uma narrativa e um suspense, a partir desse arco do Demolidor de Mark Waid, que uso como exemplo, que começa assim:





Toda a narração nos recordatórios, reforçada pelas imagens tão arraigadas já na memória daqueles que conhecem o personagem, nos leva a crer que o que estamos vendo sendo recapitulada é a origem do DD, mas... Apesar de os recordatórios realmente serem uma recordação do próprio Demônio, as imagens em realidade seguem um evento acontecendo atualmente, em outro lugar.




 Alguém que conhece muito bem Matt Murdock começa a tentar replicar o acidente que criou o Demolidor, testando em cada vez mais cobaias todas as variáveis do fatídico dia... 




Criando inimigos que depois joga em cima da população e em cima do próprio Homem sem Medo também, como nesta festa, em que um grupo de pessoas com olhos vendados ataca...







A constatação maior, porém, ocorre pouco depois durante a luta contra eles, quando um dos vilões se esquiva de um modo muito familiar:


Demolidor consegue se livrar deles, apesar da confusão inicial, com certa facilidade. Maiores perigos viriam depois, porém... Para vocês pegarem bem o conceito de pacing, peço um pouco de paciência, hehehe, e me sigam nos próximos posts enquanto acompanhamos todo o desenrolar da trama.

(Continua...)

terça-feira, 10 de abril de 2018

Memento Meia-Noite: uma excelente narrativa de trás pra frente

Mais uma história em quadrinhos usando a técnica de ser mostrada/lida de trás pra frente*. Por incrível que pareça, eu li essa menos de uma semana depois de ter lido a do Grayson, e cheguei nela de um meio completamente independente. Sincronicidade ou coincidência do kct, mas vamos lá.


O que você precisa saber:

Meia-Noite é um personagem claramente inspirado no Batman, só que ainda mais modafóca badass que o Morcegão. Sua marca registrada é intimidar seus adversários antes mesmo de a luta começar expondo seu poder com uma frase mais ou menos como "Eu já lutei essa luta um milhão de vezes, de milhares de formas diferentes, na minha cabeça, e já sei como ela termina antes mesmo de você dar seu primeiro golpe".
Ah, e ele é casado com outro personagem claramente inspirado no Super-Homem, o Apollo.

E é aqui que a história começa. Assim, pá bum, logo na primeiríssima página, um "batman" e um "super" se beijando (haters gonna hate, hate, hate...). Reparem na Terra ao fundo e nas cartas voando ao redor. E já dá a dica nas primeiras palavras da história: FIM

 Na página seguinte, vemos Meia-Noite chegando e Apollo construindo um castelo de cartas. Reparem no brilho no planeta ao fundo quando Meia-Noite aperta um botão. E na frase do protagonista: "o futuro já aconteceu, meu nego".

Somente na terceira página que você começa a perceber que diabos tá rolando (bom, pelo menos só aqui que eu saquei a jogada, kkk). Meia-Noite chega na Balsa (a sede do Authority, onde o marido dele está esperando) atravessando uma Porta e continuando seu momentum de queda:

 A página seguinte apresenta Meia-Noite, em queda livre, tentando acionar a tecnologia de teleportação (chamada simplesmente "Porta") enquanto cai. Agora sim você tem certeza de que a história tá sendo contada de trás pra frente (bom, eu tive). Na página logo após o autor até joga com a expectativa e a curiosidade do leitor, antevendo o que vem pra frente (frente fisicamente falando; ou pra trás cronologicamente falando):

  Cinco páginas de luta nos ares depois (ou antes?), mostrando mais do quanto o cara é fodão, nós chegamos ao momento anterior em que Meia-Noite ainda está no topo do Burj Al Arab (aquele hotel bonitaço cartão-postal de Dubai). Lá em cima, antes de se jogar, ele faz seu famoso discurso expondo suas capacidades de antevisão:

As páginas passam, mostrando todo o caminho que Meia-Noite fez pelo prédio até chegar ao topo, inclusive mostrando ele plantando uma bomba na parede de uma ala superior (aquela mesma que lá na frente depois, ou algumas páginas antes, ele explode apertando o botãozinho enquanto fala com Apollo). E então chegamos no momento massavéi, em que Meia-Noite, cercado por 10 guarda-costas ciberneticamente modificados, vai dando conta de um por um enquanto canta "10 Indiozinhos" (mas de trás pra frente), and then there were none

Finalmente chegamos na parte em que a vilã da história conta seu plano maligno a la vilão de James Bond e finalmente entendemos o que diabos Meia-Noite foi fazer naquele hotel invadindo-o. E cabe ainda mais um momento pra atiçar nossa curiosidade quando, logo no primeiro quadrinho, um inimigo solta um "Essa foi a coisa mais nojenta que eu já ouvi na vida", e nos deixa ansiosos pra terminar logo de ler a página inteira pra virar a folha e saber qual foi a frase que o deixou ojerizado assim:

Também nos é mostrado por que diabos Meia-Noite teve que abrir caminho até o topo do prédio e de lá saltar em queda livre, pois esse campo de força digital impedia que ele ativasse uma Porta e se teletransportasse pra fora quando quisesse. Por fim, na penúltima página Meia-Noite expõe o jogo e o mote inteiro da história, pois ele é o cara que "vai direto pra última página do livro antes de lê-lo"; afinal de contas, é assim que seu cérebro funciona. Ele calcula todos os outcomes possíveis antes de acontecerem. Repare na alusão final ao "castelo de cartas ruindo" logo quando ele cita terminar o dia fazendo amor com seu marido (castelo de cartas que ruirá no futuro, ou seja, lá nas primeiras páginas):

E chegamos assim à última/primeira página da história, com o título e os créditos e tudo o mais, e a afirmação que fecha/inicia?/sintetiza tudo:
Dessa forma o escritor nos permite, numa edição, ver o mundo exatamente como Meia-Noite o vê, processando a história exatamente como o cérebro do protagonista a processa, já antevendo o final de tudo antes mesmo de começar. Massa, não?
O mesmo efeito de Amnésia e da história do Grayson que eu mandei anteriormente, mas aqui servindo não só à estética mas também ao próprio funcionamento da cabeça do herói do título. Bem bolado, bem bolado... 
A história saiu na série Midnighter (2007), ainda pelo selo Wildstorm, escrita por Brian K. Vaughan. 

* Com bem pontuou meu amigo Guilherme, na verdade: "essa história e a do Asa Noturna são bem distintas. Essa daqui é, realmente, contada de trás pra frente. A do Asa não tem linearidade cronológica. E não é que ela deva ser lida de trás pra frente, é mais que as informações que foram dadas no final da história fazem com que a gente queira ir voltando. Poderia ser fazer uma segunda leitura, do início para o fim mesmo, tipo a segunda vez que a gente assiste Sexto Sentido, depois que sabe todas as informações". 

quinta-feira, 29 de março de 2018

Grayson Memento: uma excelente narrativa não-linear

Tenho que compartilhar essa! Se vcs gostam de mecânicas narrativas diferentes, vcs vão curtir essa HQ, muito bem planejada e executada. Escrita por Tom King (autor da estupenda série do Visão, recomendadíssima). 
O contexto1:
Abandonando o uniforme de Asa Noturna, o ex-Robin Dick Grayson passou a trabalhar como espião juntamente com sua parceira/chefe Helena Bertinelli para um grupo chamado Spyral. Esse é o mote da revista mensal chamada Grayson, que trazia essas suas novas aventuras.
O contexto2:
Alguma danada de alguma saga anual da DC (que não importa muito) trazia como mote algo como uma invasão de parademônios na Terra e mostrava como, daqui a cinco anos no futuro, iriam estar alguns heróis da editora (o que não necessariamente seria verdade daqui a cinco anos, mas tudo bem). 
Isso é tudo o que vcs precisam saber até então. Aconteceu no tie-in Grayson: Futures End, de 2014. 

A história abre com a chamada de cinco anos a partir de hoje, e vemos Helena Bertinelli falando com Dick enquanto este está suspenso pelo pescoço por uma corda, sendo enforcado até não conseguir mais resistir. 
Na página seguinte, a chamada apenas nos diz "Earlier". E vemos Dick sendo condecorado como herói da Eurásia pelo então Presidente da Federação Russa por sua participação na guerra entre os mundos (seu uniforme lembra muito o de seu ex-colega Titã, Estrela Vermelha). E, logo em seguida, atacando-o e estrangulando-o até a morte. Na frente de todos. E Helena desesperada alertando: "Eles vão enforcá-lo. Eu vou ter de enforcá-lo". Mais à frente descobrimos que o agora Presidente russo era o antigo vilão do Batman, KGBesta (êta nomezinho véi besta, sô!).


Antes. Vemos a imagem de uma destruição generalizada, corpos espalhados aos montes, cidade em ruínas, equipes de emergência tentando cuidar de sobreviventes. E Dick Grayson abraçando e confortando um recém-orfão nos braços cantando uma música de seus tempos de trapezista tentando desviar sua atenção de toda a tragédia ao redor. Descobrimos que milhões de inocentes morreram gratuitamente por ordem deliberada do Presidente (a Besta), com a ajuda da Spyral - e de Grayson e Bertinelli.



 Antes. Enquanto estão derrotando os parademônios, Helena insiste em que Grayson lhe conte como fez "aquele lance ", já que eles podem morrer agora. Dick conta então que carrega consigo um ácido especial que não deixa traços, e que mantém ele em um pote sempre debaixo de sua cama(?!). 



 Antes. Escalando um prédio pendurados numa corda (como num bom seriado de super-herói da década de 60), Helena conversa com Dick. Após ouvi-la citar a palavra "Vividamente", Dick questiona "Você está usando o Código do Mestre das Pistas, não é?". E logo em seguida ele a responde, no último quadrinho da página.

Antes. Pendurados e presos numa armadilha (digna também de supervilões de seriados da década de 60), Dick começa a rir do nada após escutar quatro frases de Helena. A única explicação que ele dá é sobre um caso antigo com o Batman, e que desde então ele sempre não consegue evitar de aplicar: um tal de Código do Mestre das Pistas. Mais sobre isto à frente. Ele promete algum dia no futuro contar a ela. 


 Antes. Numa missão para a Spyral, Dick consegue fazer com que uma ponte caia, e Helena fica intrigada como ele conseguiu fazer isso. Dick fala que é apenas um truque de circo e que um dia, antes que eles morram, vai contar para ela. Helena conta para Dick também sobre um código de espiões. Quando ela falar "o telhado", significa que é para se largar tudo e correr para o ponto de extração para a retirada e fuga. 


AntesDick está ainda como Robin e, ao lado de Batman, tentam decifrar as pistas que o Mestre das Pistas está apresentando para detê-lo (como todo bom vilão de seriado década de 60). Ele desvenda o assim chamado Código do Mestre das Pistas. "As respostas estão na frente de vocês". Ele junta a primeira letra de cada frase e obtém SPRANG. Ele vai atacar na Ponte Sprang (só mais um exemplo da tradição de dar nomes de algumas localidades de Gotham de acordo com antigos autores e artistas que trabalharam com o personagem). 


 Antes. Encontramos Dick antes mesmo de ele ser o Robin. Batman entrega para ele um pote cheio de ácido. Um ácido especial que não deixa rastros. Foi o ácido usado pelo mafioso para matar sua família, derrubando-os do trapézio. O pote que ele guarda até hoje embaixo de sua cama como lembrança.

 Antes. Vemos a mão de Tony Zucco, embebida deste mesmo ácido, esfregando a corda em que depois a família Grayson vai se apresentar. Ao fundo, toca a música de trapezista, a mesma que Dick canta para o recém-órfão no futuro. A imagem da mão de Zucco nos remete à mão de Helena Bertinelli na primeira página da história. Mas aqui nós vemos que o ácido já começa a agir, dissolvendo a corda. 
 Como a última frase nos diz, ainda não terminou. Sabendo de tudo agora, nós podemos voltar a revista inteira e ir lendo de trás pra frente, igual ao filme Amnésia (Memento). Assim podemos perceber a constante da corda na vida de Dick, podemos perceber o uso do ácido em vários momentos da história, e podemos finalmente usar o Código do Mestre das Pistas pra entender pq diabos Dick estava rindo pendurado sobre a armadilha, entender qual recado Helena passou para ele quando estavam subindo pendurados no prédio e ele deu aquela resposta, e finalmente entender o recado escondido que ela deu a ele quando Dick estava pendurado enforcado, na primeiríssima página! E tudo o mais faz sentido agora... 
Captaram? Ou querem que eu desenhe?
Quadrinhos são uma mídia em que podemos brincar bastante com a questão do tempo, a apresentação do tempo e como fazer uma narrativa baseada na percepção dele, pois diferentemente de outras mídias o leitor tem domínio quase completo sobre ele (como já disse aqui). Infelizmente poucos aproveitam para contar uma história tão legal e bem engendrada quanto esta.
Fica aqui uma imagem que achei na internet que ilustra muitíssimo bem toda essa história, com um fio/corda condutor(a) ligando as várias fases de Dick, desde o trapézio até Robin até o espião/herói russo com sangue nas mãos...
Eae, curtiram? Eu só mostrei 10 das 22 páginas da história, em que é mostrado ainda algumas relações entre sangue, pais de Batman e pais da Helena, algumas cordas e relacionamentos de Dick, etc. Excelente história!
Comprei a edição nacional, da Panini. Que decepção*. Além de o tradutor nem ao menos tentar adaptar de alguma forma o acróstico do Código do Mestre das Pistas nas frases, ele nem mesmo fez alusão ao que seria o código ou como ele se dava no original em inglês. Acredito que a tradução foi feita por alguém pago somente para isso e que nem entende de quadrinhos (ou que pelo menos nem tentou "ler", entender ou interpretar a história). Uma pena, pois muitos leitores brasileiros ficaram sem entender lhufas do que diabos seria esse código (pois não há nota explicativa alguma como "se perde na tradução, mas no original era assim...") e perderam MUITO, se não completamente, do sentido da história toda...
Que mancada, Panini!



* Assim como a edição nacional do Gavião Arqueiro que utilizava língua dos surdos, que além de não traduzir a linguagem de sinais norte-americana para Libras também nem ao menos mencionou que existia a língua brasileira de sinais e que era diferente do mostrado no original... Pode-se chamar isso de tradução...?