quinta-feira, 29 de março de 2012

Alphas e mutantes


   Um dia desses eu estava passando pela grade de programação dos canais e me chamou a atenção a sinopse de um programa do canal SyFy, chamado Alphas:


"Grupo de Alphas, seres com habilidades físicas e mentais, é escolhido para trabalhar com o objetivo de desvendar crimes relacionados a outras criaturas como eles".

   Logo de cara percebi uma semelhança entre a proposta do seriado e os X-men. Assisti aos primeiros episódios e a semelhança ficou totalmente evidente. Para começar, os Alphas nada mais são do que pessoas que nasceram com capacidades sobre-humanas (como os X-men). Mais precisamente, um grupo de pessoas lideradas por um mentor (como o Professor-X) para encontrar outros alphas. Caso sejam considerados ameaça, eles serão enviados para a misteriosa prisão de Binghamton. Caso sejam "do bem", podem talvez fazer parte da equipe (bom, isso quase nunca acontece, mais o episódio piloto trata justamente do recrutamento de um desses alphas).

PODERES
   Apesar da clara referência aos mutantes, os alphas são menos exagerados. Ou, por assim dizer, menos visíveis. Não se vê nada como pessoas voando ou atirando rajadas dos olhos (pelo menos, não houve nada nem próximo disso até o último episódio que vi). Um dos integrantes da equipe pode manifestar força acima do normal, mas ele também não ergue edifícios nem arremessa carros pelos ares. Deram um ar um pouco mais crível ao seriado, embora ainda incrível em certa medida.
   Outra semelhança com o conceito dos X-men é o poder vir com alguma desvantagem, ou o personagem simplesmente ter algum problema relacionado ou não ao poder. O Professor Xavier é tetraplégico, o Fera é um gênio com aparência bestial, a Vampira não pode tocar ninguém, o Ciclope lança rajadas ópticas destruidoras, mas se levar um murro no queixo, desmaia como qualquer pessoa normal (ou seja, sua vantagem é só no combate à longa distância). Veja como a equipe protagonista da série também mescla poderes com desvantagens:




Dr. Rosen - Mentor do grupo, psicólogo.

   Aparentemente, nenhum poder. No entanto, às vezes demonstra ser um tanto manipulador. Fica em aberto, pelo menos pra mim, se é apenas um psicólogo bem capacitado ou se isso compõe um poder que esconde dos demais, ou que talvez desconheça. Detalhe: seu primeiro nome é Lee. Na minha visão, uma homenagem e referência ao criador dos X-men, Stan Lee.







Nina - Comando hipnótico.

   Uma mulher bonita e que é capaz de dar comandos vocais, desde que possa fazer contato olhos nos olhos. Uma personagem um tanto ambivalente também. Fazia o que bem queria antes de ser encontrada e direcionada pelo Dr. Rosen. Ainda demonstra, às vezes, abusar um pouco de seu poder, como se fosse sedutor demais conseguir controlar as pessoas, embora com o passar dos episódios foi perdendo um pouco dessa característica.






Bill - desempenho físico.

   Ele é capaz de injetar adrenalina no seu corpo. Não fica muito claro de que formas o poder pode ser aplicado, mas aparentemente ele é capaz de aumentar, por um tempo bem curto, seu desempenho físico. Até agora vi ele demonstrar força acima do normal. Uma vez ele também correu atrás de um carro, mas acho que isso é uma derivação da força. Como contra-balanço, Bill só pode usar seu poder por tempo muito curto, que também gera muito cansaço. Às vezes também perde o controle, em uma espécie de berserker a la Hulk.





Gary - Acesso direto à informação.

   Esse é, na minha opinião, o personagem mais divertido e original da série. Trata-se de um garoto autista, que muitas vezes não domina convenções sociais, e adora se sentir um agente especial. Para as outras pessoas, ele é só um autista que vive em seu mundo, mexendo as mãos no ar. Na verdade, nesse momento Gary está manipulando informações provindas de tecnologia, acessando e usando programas em pleno ar, sem a necessidade de ter um computador em mãos.






Rachel - aguça sentidos.

   Não contribui quando se trata de combates, mas é essencial nas investigações. Ela pode ampliar um dos seus 5 sentidos básicos por vez, sendo capaz de enxergar detalhes microscópicos (como o Super-homem) em cenas de crime, perceber cheiros específicos no ar (como o do medo) ou seguir cheiros (como o Wolverine, em ambos os casos), ouvir batimentos cardíacos para identificar quantas pessoas há em um lugar (ao estilo Demolidor)... Em contrapartida, quando ela amplifica um de seus sentidos, os outros se apagam.






Cameron - precisão nos movimentos.

   Esse ex-jogador profissional de beisebol é capaz de arremessar uma bola exatamente onde quer. Ele pode arremessar uma moeda a alguns metros de máquina de refrigerantes e acertar. Basicamente, isso o torna um excelente combatente: os golpes de suas mãos e seus tiros são sempre muito precisos, além de ser um acrobata nato. A desvantagem é que esse poder depende de sua confiança. Bem, pelo menos isso era uma desvantagem nos primeiros episódios.


VILÕES
   Se nos X-men os vilões são os mutantes descontrolados ou que usam seus poderes sem boas intenções, na série os vilões são os alphas com essas características. Em suas primeiras aparições o doutor Lee Rosen diz algo como: imagine pessoas que têm capacidade sobre-humanas, mas sem um correto direcionamento, sem compreender direito o que são, como se colocar no mundo em que vivem. Essas pessoas podem ficar transtornadas, perdidas, aflitas. Como você acha que elas vão reagir? E é daí que nasce uma boa parte das ameaças.
  Interessante também a maneira como, nas histórias, um poder pode se relacionar com o motivo daquele alpha ser uma ameaça. Um deles, por exemplo, é capaz de enxergar com clareza diversas variáveis e calcular, com precisão, o que uma determinada ação pode provocar, levando em conta toda a reação em cadeia. Para ele, jogar um objeto no ventilador e fazer com que bata em diversas superfícies até cair na lixeira (seu alvo) é algo natural, corriqueiro. Isso acabou gerando uma paranoia no personagem. Ele não compreende direito que as outras pessoas nem sempre fazem as coisas calculadamente. Não sabe divisar direito os limites entre os cálculos que ele pode fazer e que uma pessoa comum pode fazer. Para ele, tudo o que fazem (ou quase tudo que todo mundo faz) é calculado, portanto, intencional. Dessa forma, ele culpa todos ao seu redor pelas ações que, de alguma forma, o prejudicaram. Percebem como seu poder está intimamente ligado a esse desnorteio? Sua paranoia e desejo de vingança o transformam em um grande ameaça.

   Nos x-men, os "mutantes do mal" muitas vezes também são vistos como pessoas que declararam guerra à humanidade, como se só uma das espécies pudesse existir. Esses mutantes muitas vezes são vistos como terroristas. Pois isso também existe em Alphas. Na realidade, as coisas ainda não estão muito claras no seriado. O Dr. Rosen parece muito bem intencionado, mas em outros momentos um tanto manipulador. Ninguém sabe ao certo o que acontece com os alphas que são aprisonados na Binghamton Special Research Facility, e isso dá pano pra manga para uma reviravolta na história mais pra frente. A Red Flag é tida como um grupo terrorista, mas contatos com seus membros revelam que eles não acreditam no governo, não confiam no destino que está sendo reservado aos alphas. Paranoia ou conspiração? O grupo protagonista está do lado certo ou do lado errado? A Red Flag está certa ou são como os asseclas de Magneto, que acreditam em um mundo onde somente os humanos ou os alphas vão sobreviver, e por isso devem sair na frente nessa guerra?

HISTÓRIAS
   Tenho gostado das histórias do seriado. Nada muito espalhafatoso e cheio de efeitos especiais. Por outro lado, bem produzido (iluminação, fotografia). Os enredos são casos muitas vezes mais simples, que envolvem investigação, suspense e um pouco de ação, com uma boa dose de embasamento científico. As tramas têm originalidade. Os episódios são mais ou menos fechados. Constituem uma sequência, possuem continuidade, mas você consegue assistir uma episódio solto e entender a história dele. Se estiver passando os canais, como eu, o programa estiver passando, dá uma conferida.


   Já que o post é sobre as semelhanças entre o seriado e as histórias dos X-men, no último episódio que assisti Dr. Rosen e sua equipe descobrem uma máquina capaz de encontrar e seguir qualquer pessoa no mundo, desenvolvida por uma alpha que tem os poderes iguais aos do mutante Forge. Dr. Rosen diz, em uma determinada passagem, que com essa máquina ele seria capaz de encontrar qualquer alpha no mundo. Pra mim, trata-se de uma referência direta ao equipamento Cérebro, tão usado pelo Professor X no primeiro e segundo filmes da trilogia.
   Quem tiver interesse, cheque o trailer abaixo (não achei em português, foi mal).