terça-feira, 28 de abril de 2009

NÃO VOU FALAR SOBRE WATCHMEN

Vou falar sobre o filme Homem-aranha 3. É, sim, eu sei, faz tempo que saiu e o assunto do momento é o Watchmen, bem mais recente. Só que acontece que às vezes eu preciso de um tempo para assimilar um filme. Saio da sala de cinema, penso algumas coisas, considero que não gostei muito (ou nada) do filme e, passado algum tempo, penso melhor e percebo que gostei. Meio estranho, tudo bem... eu sou meio estranho mesmo... Talvez bastante... pensando bem é mais provável que eu seja extremamente estranho... Bem, independente da minha estranheza, ainda assim, tenho essa limitação. À princípio, não gostei muito da versão cinematográfica de Watchmen. Contudo, saí do cinema pensando a mesma coisa quando assisti ao Homem-aranha, hoje gosto bastante. Aconteceu o mesmo com o HA2, também mudei radicalmente de opinião. E detestei HA3, hoje já acho que não gosto muito, mas é um filme que tem pontos positivos e pontos negativos. Enfim, chegamos ao assunto...

Alguns motivos para não gostar do Homem-aranha 3

- A primeira falha no filme, que salta aos olhos, é um pequeno meteoro, contendo o simbionte alienígena, cair bem ao lado da moto do Peter. De tantos lugares no mundo, de tantos lugares dentro a NY, ele caiu justamente próximo ao super-herói da cidade. Tudo bem, as Guerras Secretas são complexas demais para serem retratadas no filme, fugiria ao tema central, mas o filho astronauta do JJ já havia sido introduzido no HA2. Seria bem melhor dar uma explicação parecida com a do desenho animado da década de 90 do que apelar para a coincidência suprema.
- O sentimentalismo rolou solto. Começa com a Tia May relembrando Ben Parker e dando a aliança para o Peter. Ele fica sozinho no restaurante, leva o fora da MJ no parque e, no final, depois de outras cenas dramáticas, tem aquela historinha do Homem-Areia, que vou comentar à parte.
- Mary Jane, a adorada personagem dos quadrinhos, ficou parecendo a carente mais volúvel que já vi. Essa já é uma crítica que leva em conta os antecessores. Ela passou pelo Flash, pelo Harry, depois pelo filho do JJ no segundo, e no terceiro, após uma briguinha relativamente normal com o Peter, na primeira ocasião, ela beija o Harry. Puxa!
- E depois? Harry, assumidamente vilão, a ameaça para fazer o que ele quer. A MJ obedeceria simplesmente? Daria aquele fora sinistro no Peter, inventando que se apaixonou por outro, sem sequer avisar ao Peter que o Harry quer matá-lo?
- Uma crítica que não poderia faltar: o Peter do mal não convenceu. No meio termo entre fazer com que o Peter do mal ficasse cruel ou parecesse um panaca hilário, nenhum dos dois ficou muito bom.
- Ainda abordando o Peter do mal, mas mudando o enfoque... Eu não sabia que ele sabia tocar piano. Tá bom, tá bom, eu sou chato, é verdade, mas achei no mínimo inverossímil ele simplesmente desenvolver um talento relâmpago, embora tenha gostado da imbecilidade dele em querer provocar uma mulher usando outra. Gostei porque isso sim é real, e inteiramente cruel.
- Na cena em que Peter se livra do simbionte, na igreja, ele vê a “gosma” sair do corpo dele e ir caindo, mas não se preocupa em saber o que aconteceu com ela depois. Nem dá quaisquer indícios de que achou que ela tivesse morrido. Apenas se livrou dela... não é atitude de super-herói responsável.
- Outra crítica que não poderia faltar: o Venon não convence. Não só não o fizeram com a corpulência que tem nos quadrinhos, embora isso fosse plenamente possível, já que ele foi feito com efeitos de computador (mas tudo bem, a gente releva por ser uma adaptação); como não o fizeram sinistro. Ele não tem metade do peso do personagem que é um dos mais adorados vilões do Aranha.
- E, obviamente, ele não teve espaço na história. Tudo bem, se queriam focar essa história no uniforme negro, que fizessem outro filme para o Venon. Se só poderiam fazer tudo nesse filme, que dessem mais espaço para ele. É chato dizer isso, mas o tempo que a trama do Homem-Areia tomou já bastaria para dar mais enfoque no Venon. É chato porque o Homem-Areia é um dos personagens que ficou mais legal.
- Apesar disso, houve algumas falhas com o Homem-Areia também. Para mim não colou essa de que foi ele que matou o Tio Ben. Mas, tudo bem, eles queriam que esse problema do assassinato do tio fosse superado no último filme da trilogia. Só que ele o matou não intencionalmente? A questão não é perdoar? Não é “não se igualar ao vilão”? Não é “não matar o assassino por maior dor que tenha provocado”? Seria uma real superação que ele conseguisse fazer isso se tivesse sido realmente intencional.
- E, para piorar, o Homem-Aranha, depois de saber que o cara não matou o tio acidentalmente, simplesmente deixa-o ir embora, como se ele deixasse de ser um criminoso porque confessou o crime (doloso), como se ter uma história triste servisse de justificativa para sair impune.
- Ainda abordando a cena final, uma crítica pensando no conjunto: no primeiro filme, HA luta contra o Duende em uma ponte, a MJ fica prestes a cair lá de cima algumas vezes. No segundo, o Aranha a lança para cima e ela fica nas alturas novamente. No terceiro, o vilão Venon a prende na teia no alto de um prédio, e ela fica prestes a cair várias vezes. O que é isso? Os vilões do aracnídeo têm complexo de King Kong? Ainda bem que a MJ não tem medo de altura. Temo, porém, que desenvolva esse trauma.
- E talvez o maior defeito do HA3: os dois primeiros foram muito bons. Assim, comparativamente, o terceiro ficou bem atrás.

Tudo bem, eu não devo ter falado muita novidade até agora. Talvez uma ou outra opinião que já não tenha lido ou ouvido em outro lugar. Agora vamos aos pontos positivos...

Alguns motivos para gostar do Homem-aranha 3

- O Homem-Areia ficou muito bem caracterizado. Tanto na aparência, quanto naquele dilema entre ser vilão ou não, quanto sua história.
- Tobey Maguire. O cara nasceu para fazer o papel do Peter Parker. Não consigo assistir a outro filme dele sem me lembrar do Peter em algum momento.
- As cenas foram muito bem produzidas, principalmente as de ação, que exigiam efeitos especiais. Particularmente gostei do primeiro combate entre ele e o Harry, e da cena de transformação do Homem-Areia, ele tentando pegar a corrente e depois se reconstituindo. Ficou ótima do ponto de vista de produção, estética e carga dramática.
- A amnésia do Harry faz referência à própria história do Duende Verde. Nos quadrinhos, já o pai, Norman, sofreu de amnésia (mais de uma vez) e deixou de atormentar o Homem Aranha por algum tempo. A referência ficou legal.
- A fama do herói, e principalmente o deslumbramento com ela, foi uma fraqueza no personagem demonstrada na trama. Achei interessante, embora acredite que o tema tenha mais relação com outros personagens, como o Capitão América.
- O aparecimento da Gwen Stacey também. Parecia que ela ficaria simplesmente de fora da versão cinematográfica. E já que falamos dos pares românticos do Peter, legal que ele tenha dado em cima da Betty Brant enquanto estava com o uniforme negro. Referência bacana também.
- Aliás, o Peter do mal faz algumas coisas que o Peter bonzinho, vamos dizer, que o Peter “bocozinho” não faz. Ele tem mais atitude, pede um emprego fixo e o dobro do salário pelas fotos. É bom porque não ficou totalmente polarizado: Peter do bem, tudo de bom. Peter do mal, tudo de ruim. Algumas coisas no Peter mais... digamos, incisivo... mostram que o “do mal” também tem características positivas.
- O terceiro filme da trilogia manteve o humor. Existem cenas hilárias, como a conversa do Peter com o francês no restaurante.
- A clássica cena do sino nos quadrinhos, quando ele se livra do simbionte, foi retratada com fidelidade nas telonas.
- Harry se redime. Fez coisas erradas, caçou o Homem-Aranha por analisar mal uma situação, mas no final se redimiu, ajudando o herói.
- E o mais importante, o mais interessante, o ponto mais positivo do filme na minha opinião. A simbologia se manteve e foi bem retratada. O uniforme negro representa o lado negro do Peter Parker, representa desconsiderar que “grandes poderes traz grande responsabilidade”. Peter se deixa dominar pelo sentimento de rancor. Isso nubla sua visão, fazendo-o confundir justiça com vingança (ele não estranhou que Tia May não ficou contente ao saber que o assassino do tio Ben morreu? Pelas mãos do Homem-aranha, que ela considerava uma boa pessoa?). Ele se deixou controlar pela raiva e pela ambição. Sentiu a sensação de ter superpoderes e não se prender a um código moral. Essa liberdade o seduziu e o fez se sentir mais poderoso. Quando sucumbe à tentação, Peter se torna outra pessoa. Essas coisas, dentro do filme, são representadas pela ação do uniforme negro. Com tudo isso, ele mostrou o que diferencia um herói de um vilão e como o poder pode inclinar uma pessoa para o lado da vilania, se não for forte e não tiver um rígido código de ética. Quando o poder cai nas mãos de um fraco, como o confuso Eddie Brock, torna-se uma arma perigosa e descontrolada.

E agora uma característica que ainda não sei se é boa ou ruim. Boa porque faz uma referência, mesmo que (não sei) não intencional. Ruim porque faz referência a algo que particularmente não gosto. O filme retratou a última fase do herói que eu li, e inclusive motivo pelo qual parei: o Homem-Aranha deixou de ser um herói, solucionador de problemas, para ser um fardo, gerador de problemas. Nos quadrinhos, essa foi a minha visão, quando as histórias pararam de ter um motivo e começaram a se restringir à vingança de vilões. E não foi o que aconteceu em HA3? Harry se vingando. Homem-Areia, inicialmente, gera problemas, mas depois busca vingança, juntamente com Venon, que é basicamente movido pelo ódio contra o herói. Não chega a ser um problema no filme, mas nos quadrinhos... Os mesmos vilões, sempre em busca de vingança, é cansativo. Não estou acompanhando a fase atual do Aranha. Espero que tenha saído da mesmice. Embora eu tenha ouvido falar sobre uma tal ideia demoníaca um tanto infeliz...

No final das contas, achei o filme legal. Tem lá suas falhas e não é tão bom quanto os anteriores, mas a simbologia ao uniforme, que acho muito boa, pesa mais a favor.