Li recentemente no site dos Melhores do Mundo que a Marvel vai lançar, juntamente com a Upper Deck, uma revista inteira no formato de cards. Ou melhor, vai vender vários cards que, juntos, irão compor uma revista, com cinco histórias inéditas. A ambientação das histórias se dará durante a Guerra Kree-Skrull (estimulando ainda mais os boatos de que o futuro filme dos Vingadores abordará essa trama e a adaptará para as telonas), como pode ser visto aqui. Não sabia que os cards estavam voltando (para mim eles saíram de moda tão rápido quanto chegaram com força total, durante a década de 90).
Mas isto me lembrou, imediatamente, de uma história de Alan Moore - sempre ele! - que eu li há algum tempo. Era em uma revista inédita no Brasil chamada Tom Strong Terrific Tales, desdobramento da série original que continha sempre três histórias em cada edição: uma girando em torno de personagens da família Strong, sempre com algum tom mais humorístico ou experimental, outra do Jovem Tom Strong, e uma terceira sobre Jonni Future (descendente feminina do herói Johnny Futuro, que já apareceu no Brasil no encadernado Tom Strong - No Final dos Tempos). Na edição de número 4 de Terrific Tales, há uma história contada inteiramente por meio de cards, "Collect the Set".
Por ser frente e verso, a página estava espelhada, de modo que as ilustrações ficavam nas páginas pares e, atrás, estava o enredo da história. No alto de cada os números dos cards ajudavam o leitor a seguir a ordem correta de leitura. Numa bela jogada de metalinguagem, Rei Salomão, no verso de seu card, explica não só à família Strong como também a nós, leitores, que "quando se combinam, todos esses cromos acabam contando uma espécie de história".
E é o que percebemos, pois na próxima página (ou próxima sessão de cards), aparece o vilão e há várias cenas de ação. As cenas são narradas no verso de cada cromo, seguindo a lógica dos números e dos títulos de cada um. Reparem nas imagens acima e abaixo.
A história toda se desenvolve desta forma, no que poderíamos chamar não mais de histórias em quadrinhos, e sim histórias em cromos, ou "card comics". Porém, diferentemente da recente iniciativa da Marvel, em que vários cards montam uma história, nesta aventura de Tom Strong uma história é apresentada por vários cards. O leitor não vai comprar um pacote de figurinhas para ter uma história, o leitor comprou uma revista e ela veio dividida em vários cromos.
Há até uma sugestão, se vocês olharem bem, para que se corte a revista com o auxílio de uma tesoura, individualizando cada card, reparem. Daí ficaria à escolha do freguês: decidir manter a revista no formato padrão ou manter essa história na forma de vários cards distintos. O próprio Alan Moore já havia feito algo parecido em sua última edição de Promethea (a de número 32). Cada página da revista era na verdade uma imagem única, sem divisão em painéis ou quadrinhos. O leitor, como era sugerido, deveria recortar cada página e montá-la como um gigantesco painel, pois as 32 páginas juntas formavam um pôster (ou melhor, dois, um de frente e outro de verso), cuja holoimagem só era revelada ao se juntar todos. Ademais, a história poderia ser lida na ordem em que quisesse, coisas de Alan Moore. Neste caso, cada página completa poderia ser considerada um cromo gigante, que combinadas formariam o álbum (o pôster de Promethea). Infelizmente, no Brasil ainda não foram publicadas as últimas edições de Promethea, que por aqui só contou com um encadernado (ironicamente, chamado Promethea Volume 1).
Antes mesmo de Alan Moore escrever esta história de Tom Strong já houve uma tentativa de se misturar cards e histórias em quadrinhos. Em 1993 a série Plasm (ou Warriors of Plasm, como ficou conhecida depois), de Jim Shooter, sob a editora Deviant, lançou algo parecido para a edição zero do supracitado título.
Até mesmo aqui no Brasil já fora lançado um livro ilustrado - ou álbum de figurinhas - da Turma da Mônica chamado A Volta do Capitão Feio, em 2005. Vocês podem encontrar uma resenha aqui.
Até mesmo aqui no Brasil já fora lançado um livro ilustrado - ou álbum de figurinhas - da Turma da Mônica chamado A Volta do Capitão Feio, em 2005. Vocês podem encontrar uma resenha aqui.
Voltando ao lançamento da Marvel: cada card representará dois quadrinhos ou painéis da história, um em frente e outro no verso, cerca de nove cards compondo uma página inteira. No site dos MdM o autor do post explica matematicamente o custo para se ter a história inteira, já que cada pacote com 9 cards custará o mesmo que a média de custo de uma revista mensal qualquer nos EUA: 2,99 dólares. E isso se você "manipular as probabilidades igual a Feiticeira Escarlate" para não comprar nenhum card repetido dentro dos 190 no total!
A primeira história será de 20 páginas (formada por 90 cards), contando com Capitão América, Thor, Homem de Ferro e Visão; outra história, de 8 páginas (com 36 cards), mostrará Mercúrio e Feiticeira Escarlate; uma história de 6 páginas (com 27 cards) estrelará Nick Fury; e por fim outras duas histórias, de 4 páginas (e 18 cards) cada, apresentando respectivamente o Super-Skrull e o Capitão América.
Esta notícia me fez lembrar de um velho amigo que comprava e traduzia cards. Graças a isso, tornou-se autodidata em inglês. Hoje ele fala ainda francês e alemão, já tendo morado na África e na Europa. E tudo começou com cards... Este post vai em sua homenagem, meu velho.
Card game de estratégia sugerido: Dominion (Rio Grande Games), e suas expansões.
Card game online sugerido 1: Necronomicon (Games of Cthulhu).
Card game online sugerido 2: Necronomicon - Book of Dead Names (Games of Cthulhu).
Um comentário:
Adorava aquele cheiro de cards novos saídos do pacote. Era um daqueles momentos em que eu queria ter muito dinheiro pra poder comprar todos, porque importados eram tão caros. Obrigado pela lembrança e pela homenagem, velho e caro amigo!
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