Umas duas décadas antes de receber o recente epíteto de Lifebringer (vide final do post), Galactus e seus arautos já passavam por umas situações que demonstravam o - paradoxal para alguém chamado Devorador de Mundos - apelo a favor da vida deste faminto deus cósmico. Separei duas instâncias, uma de 1991 e outra de 1993.
A primeira dela diz respeito a Nova, Frankie Raye, humana apaixonada por Galactus que se voluntariou para ser sua arauto. Surfista Prateado, recentemente tendo descoberto que o Devorador de Mundos havia mexido com sua "alma" a fim de que cumprisse integralmente seu papel de arauto (ou seja, fazendo com que o Surfista não sofresse de remorso com o fardo de ter entregue um planeta inteiro para ser destruído por seu mestre), preocupou-se com a nova arauto. Sentindo-se responsável pela alma da terráquea, Surfista solicitou sua ajuda para alcançarem um planeta distante:
Apenas com a velocidade combinada dos dois eles conseguiriam finalizar a viagem e chegarem ao destino almejado. Chegando lá, Surfista apresentou o mundo para Nova e perguntou-lhe se ela, vendo os selvagens e primitivos habitantes da esfera, mesmo assim entregaria a orbe de mão beijada para seu mestre consumir:
Ela disse que sim, se assim fosse o desejo e a necessidade de Galactus. Segundo ela, ninguém nem perceberia ou sentiria falta deste globo. Então o Surfista a pediu para o acompanhar para dentro de uma caverna naquele primitivo mundo, para mostrar-lhe algo:
Surfista na verdade enganou Nova. A viagem que fizeram não foi pelo espaço, mas sim pelo tempo! Eles retornaram para uma Terra ancestral, onde os seres humanos ainda não haviam alcançado o desenvolvimento de hoje. Nova estava em casa, milhares de anos no passado, mas em casa. Surfista então lhe disse que cada um dos milhares de mundos em situação similar estariam fervilhando de possibilidades. Nova percebeu que estas possibilidades e potencialidades todas seriam destruídas junto com o planeta, e que de fato sim, muitos sentiriam falta dele se fosse destruído - a própria Frankie Raye nunca teria nascido, por exemplo, nem nunca seria arauto de Galactus. Bem legal a lição.
Esta edição ainda traz de bandeja uma rara oportunidade de vermos Galactus sentadinho e̶m̶ ̶s̶e̶u̶ ̶s̶o̶f̶á̶ ̶ sem seu capacete:
Como o excelentíssimo site Supermegamonkey disse quanto a isso, se você não gostou dessa imagem, lembre-se que John Byrne estabeleceu anos antes que nós enxergamos Galactus apenas como nossa habilidade cerebral de compreendê-lo permite, então a culpa é apenas sua mesmo, kkkkkk. (Curiosidade: lembro que, quando vi esta imagem abaixo pela primeira vez, ainda criança, eu não tinha entendido direito e achava que esses quadrinhos rodeando Galactus na verdade mostravam as várias espécies presentes reagindo com assombro à imagem dele; só depois de "velho" vim a entender que na realidade se trata das várias imagens de Galactus, como visto por diversas raças alienígenas):
A outra instância é em uma edição de Excalibur, de Alan Davis. Em determinado momento, a entidade Fênix, de posse de Rachel Summers, enfrenta o Devorador de Mundos, pronta para dar fim à existência do "maligno" ser. Galactus retruca a hipocrisia da mutante, ao tempo em que revela fatos interessantíssimos sobre a entidade e como funcionam seus poderes:
Galactus nos ensina que a Fênix retira suas forças a partir de uma fonte ilimitada de potencial: a vida ainda não nascida. E conclui com uma pergunta: "Quem é o mal maior, eu, o devorador da vida que seguiu seu curso; ou você, que nega a existência a gerações do futuro?"
Derrotada, Fênix vai embora. Maior ainda a lição.
Pois bem, em 2016, numa edição do novo Ultimates (grupo composto por Pantera Negra, Marvel Azul, América Chavez, Capitã Marvel e Mônica Rambeau; nada a ver com os Supremos do universo Ultimate), o grupo de heróis mais proativos decide "resolver o problema Galactus" de uma vez por todas. Estudando o Devorador, eles apresentam e entregam sua solução:
Eles concluíram que o processo de maturação de Galactus desde o alvorecer do universo foi de alguma forma interrompido, ficando incompleto. Ou seja, o Devorador saiu de sua câmara de gestação prematuramente. Encontrando a incubadora ainda funcional no espaço e pulsando de energia, os novos Supremos resgatam-na e forçam Galactus a adentrá-la, finalizando assim seu desenvolvimento. O deus cósmico emerge da incubadora não mais como uma força devoradora de vida, mas sim uma força doadora universal. Galactus, the Lifebringer:
Veja bem que estamos falando de planetas e forças cósmicas e conceitos universais. Se você enxergou algo mais além disso - ou alguma metáfora que escapou até mesmo aos autores originais -, lembro que, assim como a verdadeira face de Galactus, isso se deve somente a você mesmo.